O livro Educação e
conhecimento científico – inflexões epistemológicas, de Maria Auxiliadora
Cavazotti é uma obra importante para a
compreensão da epistemologia pós-moderna, sua relação com o conhecimento
científico e a educação.
A autora tem por objetivo
investigar a concepção de educação e conhecimento na pós-modernidade com base
no referencial teórico-metodológico do materialismo histórico e dialético.
Assim, uma das categorias metodológicas utilizadas por ela é a dialética, a
qual possibilita apreender as contradições que se operam no processo de
desenvolvimento do capital.
A autora formula a
hipótese de que a pós-modernidade é expressão da crise do modo de produção
capitalista e, como tal, um movimento enraizado na perspectiva de dissolução do
pensamento científico. Assim, a autora vai mostrar que o pensamento pós-moderno
acaba por fazer o caminho inverso à busca pela objetividade científica buscada
pela pedagogia ao longo dos séculos XIX e XX.
Refletido sobre a
relevância e propriedade das interpretações da pós-modernidade à luz da análise
de autores que recorrem aos pressupostos do materialismo histórico dialético,
Cavazotti atém-se a duas temáticas acredita serem relevantes para o
desenvolvimento do estudo sobre o impacto da pós-modernidade na educação.
Analisa a questão da relação entre pós-modernidade e determinações do movimento
de reprodução do capital e reflete em que medida as temáticas pós-modernas
revelam o abandono das categorias da ciência social, que se fundamenta nos
pressupostos do materialismo histórico, com base na apreensão da realidade pela
via do método dialético.
O pensamento pós-moderno
a partir de Tomas Tadeu da Silva concebe a educação como campo
político-cultural, razão pela qual se propõe analisá-la e teorizá-la segundo
uma Teoria Cultural. Silva destaca que uma Teoria Cultural da Educação vê a
Educação, a Pedagogia e o Currículo como campos luta e conflitos simbólicos,
como arenas contestadas na busca da imposição de significados e hegemonia
cultural.
Inicia o capítulo
interrogando a conceituação defendida pelo autor pós-moderno Stuart Hall por
tomar identidades pessoais como ponto de partida para questionar a suposta
crise de fragmentação do sujeito. Para tanto questiona se intrínseca ao
sujeito, o que se verifica em períodos históricos distintos, como o caso do
final do século XX, não seria apenas reprodução de uma desagregação que lhe é
original? Diz então que a resposta a essas perguntas leva-nos a crer que se
trata antes da afirmação da incapacidade do sujeito de aglutinar as diversas
dimensões em que se manifesta sua individualidade essencialmente múltipla, do
que constatadas possíveis rupturas posteriores.
Assim, continua
Cavazotti, somente no interior das relações sociais de produção capitalista, no
antagonismo entre a classe detentora dos meios de produção e a classe
trabalhadora, portanto de si mesma, encontraremos os elementos da produção da
identidade, ou seja, identidade de classe. Mostra então que no âmbito do
pensamento pós-moderno tal categoria não apenas é negada como substituída pela
categoria de identidade cultural.
Ao pretender uma
pedagogia capaz de adequar o conhecimento à aprendizagem do aluno, às
características da escola a influencia da concepção pós-moderna leva ao próprio
estrangulamento da função primeira da escola se a pensa como um dos principais
canais de acesso ao conhecimento socialmente produzido, principalmente aos
estudantes das classes populares que tem na escola um dos únicos, senão o único
instrumento de acesso a tal conhecimento.
REFERÊNCIA:
Educação
e conhecimento científico – inflexões epistemológicas, de
Maria Auxiliadora Cavazotti; Autores Associados; 2010
https://sugestaodeideias.blogspot.com.br